Cinco coisas que os tradutores poderiam ensinar ao mundo todo(*)

Por Solange Esteves, soluções em marketing de conteúdo e tradução francês e português

Linkedin: Solange Ramos Esteves

Para muitas pessoas tradução é uma profissão ingrata. De certa forma elas têm razão.

Traduzir pode ser imensamente compensador no plano pessoal — e até mesmo potencialmente no financeiro se o tradutor atrair o tipo certo de clientes! — mas no final do dia, o seu trabalho permanece invisível. Uma boa tradução é lida como se jamais tivesse sido escrita em outra língua, ou seja, o tradutor permanece oculto. Seu árduo trabalho e toda a sua experiência presentes no processo são frequentemente esquecidos.

Talvez isso seja injusto, mas para equilibrar pesos e medidas, nesse artigo serão apresentadas cinco qualidades dos tradutores que poderiam ser úteis para todo e qualquer cidadão. Essas qualidades fazem do trabalho do tradutor uma atividade tão importante.

PRECISÃO CONTA

Pontuação conta. Gramática conta. Contam não por serem uma opção extra. Não são a cereja do delicioso bolo da comunicação. Na verdade, são ingredientes-chave para um perfeito creme de cobertura. São essenciais para a apresentação de qualquer texto. A falta de atenção em um detalhe pode resultar em um texto ambíguo, impreciso ou simplesmente incompreensível. A troca de uma letra, um adjetivo mal-empregado, podem arruinar a percepção do leitor.

Os tradutores sabem: quando se trata de uma língua, nada senão a perfeição é o que funciona. No mundo da tradução podemos inverter a máxima da grama do vizinho. Aqui todos concordam que a sua grama, senão for a melhor, é ótima e todos podem se entender — cliente, tradutor, revisor. Imaginemos um mundo onde isso fosse verdade. Não seria maravilhoso?

BOM SENSO TAMBÉM CONTA

No outro lado da moeda, é essencial entender que as línguas mudam e que diferentes tipos de linguagem adéquam-se a diferentes contextos. Um e-mail não terá o mesmo tom de uma carta formal. Um manual técnico tocará o leitor de forma diferente do que uma apresentação de marketing. Assim como o estilo geral, cada pequeno impacta. Trata-se novamente de precisão, mas aqui é necessário saber quando se deve quebrar as regras em vez de segui-las. O estilo de um cliente pode ter menos valor do que uma vírgula para a Academia Brasileira de Letras, por exemplo, mas um bom tradutor sabe que, ocasionalmente, não seguir uma regra é necessário em benefício da clareza e da legibilidade de um texto.

Portanto, para a segunda coisa que gostaríamos de mudar se os tradutores governassem o mundo, que tal nunca mais ouvir alguém reclamar sobre a decadência das línguas? Sonhar nunca é demais.

TRADUTORES DEVEM SER ESPECIALISTAS

Sem dúvida, esta conclusão segue-se às anteriores. Para garantir que o cliente fique satisfeito e apresente-se bem para o resto do mundo, é necessário conhecer o idioma do público alvo por dentro e por fora. Isso vale para escrever, traduzir, editar, revisar e tudo o mais no campo do trabalho com línguas.

Em relação ao conhecimento dos idiomas, há assuntos muito específicos. Frequentemente não é suficiente saber como escrever: é preciso saber como escrever sobre algo se o tradutor quiser que seu público, também especializado, receba o sentido correto do que está sendo tratado. Por essa razão, tradutores especializados em um dado campo são os mais valorizados.

Item três da nossa agenda para dominar o mundo: deixem os especialistas fazer o que eles fazem de melhor.

NÃO HÁ ESCAPATÓRIA: É PRECISO FALAR A LÍNGUA LOCAL

Não há dados disponíveis sobre isso, mas é possível apostar — quando se está de férias em um país estrangeiro, os tradutores estão em melhores condições do que qualquer outra pessoa para, pelo menos, captar umas poucas palavras da língua local. E por que não? Essa é a coisa mais educada a se fazer. Os tradutores sabem: dirigir-se a alguém em sua própria língua é um bom meio para fazer amigos, para deixar as pessoas à vontade, para demonstrar o desejo de acolher alguém e tornar sua vida um pouco mais fácil. E se algo é bom na vida pessoal de alguém, também o é em sua vida profissional. Isso é essencial para ser competitivo em um mercado internacional. Muitos turistas se perguntam “Para que se preocupar? O mundo todo já sabe falar inglês!” Mas os tradutores sabem que essa não é a melhor opção.

Com isso em mente, a quarta proposta para o governo global secreto dos tradutores é: todos deverão esforçar-se para aprender uma língua estrangeira. Aqueles que se recusarem serão expatriados — mas com dicionários! — até que tenham se submetido à nossa lei tão benevolente.

OUTRAS CULTURAS TAMBÉM SÃO INTERESSANTES

O que é xenofobia? Não é de fato o medo de estrangeiros ou do desconhecido? Os tradutores atuam entre diferentes culturas e diferentes nacionalidades. Para serem capazes disso, mergulham em vários mundos e percebem que, em vários sentidos, essas “diferentes culturas” nem são tão diferentes assim.

Todo tradutor sabe: nós todos falamos línguas diferentes e temos diferentes costumes, mas temos em comum muito mais coisas. Pode ser fascinante explorar as diferenças entre nós, mas corre-se o risco de apenas aprofundá-las. Podemos tomar conhecimento do que nos diferencia, sem nos deixar dividir. Podemos também até mesmo celebrar as diferenças, mas sem descer até os estereótipos e os preconceitos. Se todos entendessem isso o mundo talvez fosse um lugar um pouquinho melhor. Talvez.

E então, nossa última sugestão de lei é: “Sejamos bons uns com os outros”.

 

(*)Adaptado de Five things translators could teach the rest of the world, publicado em 1 de fevereiro de 2016, por Oleg Semerikov que, gentilmente, sugere que se compartilhe seu texto.

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