Por Jacqueline Moreno
Nascemos de um cordão umbilical que, para termos vida própria, precisa ser cortado. Os laços vão sendo tecidos no nosso movimento involuntário de crescimento. Já nascemos aptos a sugar o leite, a sentar, engatinhar, andar, correr, pular, nadar e voar ao encontro do nosso destino. No caminho de todo esse movimento corremos o risco de tornar os laços tão embaraçados ao ponto de virar nós. Nós não no sentido do” eu e você” e sim do “eu sem você”.
Nós iguais aqueles que sufocam a garganta, que impedem de dar o laço no sapato e até mesmo de pentear os cabelos livremente. Tem também aqueles nós que nos remetem sempre ao passado, ao rancor, a dor e a culpa que quase sempre é do outro, da outra, dos outros. Isso sem falar naqueles nós que de tão atados nos obrigam a cortar os laços. E aí a vida de nós “eu e você” cessa? Aquele cordão que nos deu autonomia de respiração e que nos levou ao encontro de nós por algum motivo para uns ou por mera casualidade do destino para outros é cortado para nunca mais. Nunca mais? Sinto informar, mas o nunca mais não existe nem existirá quando há nós entre nós. Porque para que os laços e nós desapareçam sem deixar rastro tem de a ver o desamor e a indiferença. E enquanto um de nós se importar com o outro, com a outra, com os outros, haverá laços e nós entre nós. Há, quiçá uma esperança de salvação. O choro, o esperneio, o espanto e a indignação são sinais de afeto, uma busca de abrigo, de teto. E coincidentemente enquanto escrevo essas linhas sobre laços e nós, uma criança balbucia palavras e um amigo do outro lado do Atlântico envia um sinal. Coincidentemente? No mundo interligado de laços e nós tudo não passa de resposta de entrelaçamentos. E assim sendo, nada acontece coincidentemente. Há quem sabe um nó, nem que seja um, pedindo para ser desfeito. E quando um decide, os demais seguem o movimento e o que era um emaranhado vira rede. Rede e até nós que medem a velocidade do barco no mar que por sinal é medido por pés. Pés que remetem a passos. E ao dar o primeiro passo de dar um laço que seja, nós já nos tornamos.
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