Cara leitora,
Caro leitor,
É comum a crença de que, por terem sido vítimas históricas de processos discriminatórios, negros e judeus teriam uma propensão natural para estabelecer alianças na luta contra o racismo.
Embora existam exemplos diversos de atuação conjunta, nem sempre isso acontece. Muitas vezes, a depender do contexto histórico ou geográfico, negros percebem judeus não como vítimas de não-judeus, mas como parte do grupo opressor branco; judeus, por sua vez, percebem negros não como vítimas de brancos em geral, mas como parte do grupo opressor de não-judeus.
Às vésperas da celebração do Dia da Consciência Negra, novamente questionamos: é possível unir negros e judeus em uma luta contínua contra o racismo? Como fazer isso considerando as especificidades do caso brasileiro?
Segundo o levantamento The Trans-Atlantic Slave Trade Database, esforço internacional de catalogação de dados sobre o tráfico de escravos, ao longo de três séculos, foram feitas mais de 11,4 mil viagens para transportar escravizados. Destas, 9,2 mil tiveram como destino o Brasil.
Nenhum país recebeu tantas pessoas que foram escravizadas quanto o Brasil. A estimativa é de que foram trazidos 4,9 milhões de africanos para cá.
A abolição só aconteceu em 1888, mas as marcas seguem até hoje. De acordo com dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), entre as 33 milhões de pessoas que passam foram no Brasil, 70% são negras.
Se negros foram desumanizados no país, a história da imigração judaica é diferente. Perseguidos em países da Europa ou Oriente Médio, judeus encontraram no Brasil porto seguro. É o que permite, por exemplo, um escritor como Stefan Zweig afirmar, no livro “Brasil, um país do futuro” (L&PM, 2013):
“Como conseguir em nosso mundo uma convivência pacífica entre as pessoas apesar da diversidade de raças, classes, cores, religiões e convicções? Esse é o problema com que toda comunidade, todo país sempre volta a se defrontar. A nenhum outro país senão no Brasil ele se impôs em uma constelação tão complicada, e nenhum outro país – e é como grato testemunho disso que escrevo este livro – conseguiu resolvê-lo de maneira tão feliz e exemplar como o Brasil. Uma maneira que, na minha opinião, não requer apenas a atenção, mas também a admiração do mundo”.
A interseccionalidade possível
Buscar caminhos de luta interseccional envolvendo judeus e negros, reconhecendo a diferença nas experiências de cada grupo, tem sido um esforço permanente do Instituto Brasil-Israel. Fazemos isso de diversas maneiras. A começar relativizando a ideia de que ser negro e ser judeu são identidades contraditórias. Assim, procuramos dar visibilidade às experiências de judeus negros (ou negros judeus), seja no Estado de Israel, seja aqui no Brasil. Com esse objetivo, há alguns meses foi formado o coletivo judeidade e negritude. Ainda em fase de estruturação, já existem algumas ações em curso.
Neste domingo, 20 de novembro, o grupo participa, ao lado de outras organizações da comunidade judaica, da 19° Marcha da Consciência Negra, em São Paulo. A concentração será em frente ao Masp, às 11h, e todos aqueles que se solidarizam com essa luta estão convidados a se somar.
“A presença do coletivo judaico é inédita e representativa, já que unifica a luta de dois povos que historicamente sofrem uma perseguição muito grande, além de englobar um lugar de solidariedade de judeus com a questão negra no Brasil e no mundo, somando às vozes de que vidas negras importam, de igualdade, tolerância e de cultura de paz”, destaca João Torquato, membro do coletivo Judeidade e Negritude, do IBI.
Uma de nossas inspirações é a aliança estabelecida entre o rabino Abraham Joshua Heschel e o reverendo Martin Luther King. O filósofo e pensador judeu era um ativista pelos direitos civis nos Estados Unidos. Ele se juntou a Luther King na Marcha de Selma a Montgomery, em março de 1965. Na ocasião, Heschel disse que estava “rezando com as pernas”.
Em uma definição precisa, o Instituto de Pesquisa e Educação Martin Luther King Jr., da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, afirma que “os dois homens foram movidos por uma noção coletiva de responsabilidade da fé da humanidade, e acreditava, que a luta para superar as injustiças deveria ser ecumênica”.
Ao mesmo tempo, temos tentado também fomentar conversas sobre o tema. Neste sábado, 19 de novembro, às 17h, acontece mais um bate-papo da série “Judeidade e Negritude”, parceria entre o Instituto Brasil-Israel, o Museu Judaico e São Paulo e a Casa Sueli Carneiro. O encontro será no Museu Judaico e tem como tema “Alianças históricas: marcos de cooperação entre judeus e negros no Brasil, nos Estados Unidos e na África do Sul”. Participam o professor de Antropologia Social e História do Programa de Pós-Graduação da Unicamp Omar Ribeiro Thomaz, o professor de Ciências Sociais e Relações Internacionais da UFABC Flávio Francisco e o professor do Departamento de Sociologia da Unicamp Mário Medeiros. A mediação fica por conta de Karina Calandrin, coordenadora de programas e projetos do IBI.
Junte-se a nós.
Debate na UFSC
A pedagogia pode ser uma das chaves para combater o nazismo. Como parte da programação do Novembro Negro, Michel Gherman, assessor acadêmico do IBI, e Lia Vainer Shucman, professora de psicologia, ministraram palestra sobre o tema na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O evento foi oferecido pela Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe) e planejado em meio a denúncias de manifestações nazistas na instituição. Veja.
Prática nazista
O IBI manifestou preocupação em relação aos pedidos de “marcação” de estabelecimentos de eleitores do Partido dos Trabalhadores, que lembra práticas do nazismo, difundido inclusive por personalidades como a atriz Regina Duarte. A nota repercutiu na Folha de S. Paulo, em matéria que também contou com o depoimento de Ricardo Brajterman, advogado e integrante de nosso conselho consultivo. A atriz se desculpou. Leia.
Lula e o Hamas
Você deve ter recebido no WhatsApp alguma mensagem acusando Lula de ter doado R$25 milhões ao grupo terrorista Hamas. A afirmação é falsa, mas tem sido amplamente difundida – ainda mais depois de o grupo ter parabenizado o petista pela vitória nas eleições. Existe alguma relação entre Lula e Hamas? Quais as verdades e as mentiras nessa suposta conexão? No E eu com isso?, recebemos o professor Guilherme Casarões para falar sobre o assunto. Ouça.
Defesa de valores
Em artigo para a revista Exame, Fabio Alperowitch, diretor do Instituto Brasil-Israel, analisou a atitude de empresas perante a casos de preconceito, como a Adidas em relação ao rapper americano Kanye West, que fez comentários antissemitas. Leia.
Voos diretos Israel – Catar
Como diria Galvão Bueno: É CLIMA DE COPA DO MUNDO, AMIGOS! O mundial desse ano acontece no Catar, país com o qual Israel não tem relações diplomáticas. E como será que os israelenses que querem assistir o mundial vão ter de fazer para chegar até lá? E os palestinos? O João Torquato te conta mais sobre essa situação. Veja.
Novo governo e clima de copa
No Expresso Israel, a jornalista Daniela Kresch, correspondente do IBI em Israel, falou sobre a diminuição da representatividade no governo israelense: tanto o número de mulheres quanto o número de árabes diminuiu em relação ao parlamento anterior. Além disso, Benjamin Netanyahu enfrenta problemas para formar governo. Aliados demandam cargos e a pressão externa dificulta a vida de Bibi na hora de fazer as escolhas. Por fim, o clima de Copa do Mundo! Israel não participará do mundial, mas quem vive no país está animado para a maior disputa de seleções do planeta.
FONTE: Instituto Brasil-Israel
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